Primeiro comício unificado da campanha Diretas Já completa 40 anos
Evento foi realizado em frente ao estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo
A última segunda-feira, 27 de novembro, marcou o aniversário de 40 anos do primeiro comício unificado das Diretas Já, campanha cívica que exigia o retorno da democracia plena com eleições diretas para presidente da República. O evento ocorreu no ano de 1983, em frente ao Estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, com coordenação suprapartidária e adesão de mais de 70 entidades da sociedade civil.
Em março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) havia apresentado no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional que restabelecia a eleição direta para o próximo presidente da República. Naquele momento, o cargo máximo do país era escolhido de forma indireta pelo Colégio Eleitoral, que na prática apenas ratificava o nome indicado pelo alto comando das Forças Armadas, que comandou o país durante a ditadura militar (1964–1985). A última eleição direta para presidente da República havia ocorrido em 1960 — a população brasileira estava sem escolher o seu presidente há 23 anos.
Popularmente conhecida como Emenda Dante de Oliveira, a proposta acabou sendo acolhida como prioridade pelos partidos de oposição ao regime, entrando na agenda nacional e recebendo amplo apoio popular. Um ano antes, em 1982, a população enfim havia votado para governador de estado pela primeira vez desde o início do regime militar, em 1964, e agora queria o restabelecimento pleno da democracia com eleições livres para presidente da República.
Comícios começaram a ocorrer pelo Brasil em apoio às eleições diretas. Em junho, a primeira manifestação ocorreu em Goiânia, reunindo 5.000 pessoas. Nos meses seguintes, ocorreriam manifestações ainda pequenas em Teresina (PI) e em diversas cidades de Pernambuco.
No dia 26 de novembro, os dez governadores eleitos pela oposição em 1982 (nove do PMDB, entre eles o governador paulista Franco Montoro, e um do PDT, o governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola) assinaram um manifesto conjunto apoiando a Emenda Dante de Oliveira e exigindo eleições diretas para presidente. Então, no dia seguinte, 27 de novembro, ocorreu o primeiro comício unificado das Diretas Já. Quinze mil pessoas compareceram ao comício, dando a largada para a campanha que tomaria conta do Brasil nos meses seguintes. Naquela noite, por coincidência, morreu o senador Teotônio Vilela (PMDB), um dos grandes nomes da resistência democrática.
Marco da redemocratização
A campanha das Diretas Já começaria o ano de 1984 com um grande comício em Curitiba (PR), no dia 12 de janeiro, do qual participaram 50 mil pessoas. O número seria seis vezes maior duas semanas depois, em São Paulo. No dia 25 de janeiro, aniversário da capital paulista, 300 mil pessoas compareceram à Praça da Sé para pedir a aprovação da Emenda Dante de Oliveira pelo Congresso Nacional. A partir desta data, os comícios se espalharam por diferentes capitais e grandes cidades do país: João Pessoa, Maceió, Belém, Rio de Janeiro, Cuiabá, Rio Branco e Manaus, entre outras.
A votação da emenda foi marcada para o dia 25 de abril e os comícios, ganhando dinâmica própria, alastraram-se por todo o país. A campanha continuou a crescer até o grande comício da Candelária, no Rio de Janeiro, que congregou mais de um milhão de pessoas no dia 10 de abril — a maior manifestação de rua da história do Brasil até aquele momento.
Com a data da votação se aproximando, foi marcado o comício de encerramento para o dia 16 de abril em São Paulo. Um milhão e meio de pessoas ocuparam o Vale do Anhangabaú, batendo o recorde de comparecimento do Rio de uma semana antes.
No dia da votação, a emenda obteve 298 votos a favor, 22 a menos do que os 320 necessários para atingir o quórum de dois terços e ser encaminhada ao Senado. Votaram contra a proposta 65 deputados governistas. A derrota foi selada principalmente pelos 113 deputados ausentes.
Apesar da derrota na Câmara, a campanha das Diretas Já havia liberado um vigor democrático em todo o país, de forma que na eleição indireta para presidente no ano seguinte, em 1985, a ditadura não conseguiria emplacar seu candidato e teria êxito a articulação dos oposicionistas pela eleição do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves. No entanto, ele faleceu em 21 de abril de 1985, às vésperas de sua posse como presidente, e então assumiu o cargo em 15 de março o seu vice, José Sarney, o primeiro presidente civil desde o início da ditadura militar.
As eleições diretas para presidente só seriam restabelecidas pela Constituição Federal de 1988. O primeiro presidente eleito diretamente pelo povo brasileiro foi Fernando Collor de Mello, nas eleições realizadas no ano seguinte, em 1989.
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