Indígenas Guarani-mbya recebem título eleitoral em mobilização do TRE-SP

Aldeia Rio Branco, em Itanhaém, teve segunda visita do projeto de inclusão do Tribunal, que deve chegar a pelo menos outras quatro comunidades indígenas neste semestre

Equipe do TRE-SP atende eleitora indígena na aldeia Rio Branco, em Itanhaém (SP), durante visita...

Nas próximas eleições, o estudante Cristiano Vieira da Silva, 19 anos, vai poder votar pela primeira vez. Morador da Aldeia Rio Branco, em Itanhaém, ele recebeu o título durante ação realizada nesta terça (11) pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) na localidade. Com problemas de infraestrutura e de difícil acesso, a comunidade indígena está situada a quase 30 quilômetros do centro do município. Atualmente, vivem no lugar 24 famílias da etnia Guarani-mbya (pronuncia-se bêá).

“Não fosse a vinda da equipe, não sei quando tiraria o título. A dificuldade é a distância. Acho importante votar para lutar por nossos direitos e preservar o nosso povo”, afirma Cristiano, que, ao nascer, recebeu o nome Tupã (trovão, em sua língua nativa) Jekupe durante batismo espiritual na casa de reza da aldeia. 

A indígena Maria Krexu de Souza, 54 anos, batizada Krexu Poty (pétala de flor) tinha título, mas estava em situação irregular por não ter votado nas últimas eleições. “Pretendo votar de novo porque também temos o direito de escolha”, diz.

Parte dos indígenas não tem fluência no português, apesar de entenderem bem a língua. As entrevistas para a equipe de comunicação do TRE-SP foram realizadas com a tradução de uma das líderes da aldeia, a professora Vanessa da Silva Paraí (oceano). Ela conta que nem todos os serviços públicos chegam à comunidade devido à distância. “Quando chove, acaba alagando tudo. Contamos com ajuda para o transporte”, ressalta.

Segundo Paraí, a interrupção da vida escolar afasta os indígenas da participação política. “Temos escola aqui, mas não há ensino médio. Muitos jovens param de estudar no nono ano. Às vezes têm dificuldade de se comunicar, não tiram o título”, explica.

A professora, que dá aulas culturais da língua Guarani-mbya, acrescenta que todos têm direito de voz. “Temos direito de exercer a cidadania. Cada povo tem seu conhecimento. A política é importante para preservar nossa cultura, costumes e tradições”.

A mobilização na aldeia foi organizada pela Secretaria de Planejamento Estratégico e de Eleições (Seplan), com participação de servidores da 189ª Zona Eleitoral — Itanhaém e do posto de Mongaguá, além da Coordenadoria Executiva da Ouvidoria (Couvex). 

Esta foi a segunda visita das equipes do TRE-SP à comunidade, situada na Baixada Santista. Ao todo, foram contabilizados 16 atendimentos, entre alistamentos, revisões e transferências. A iniciativa ainda teve a participação de servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Poupatempo, que fez triagem para emissão de RGs.

A ação faz parte do “Projeto Inclusão Político-Eleitoral — assentamentos, povos e comunidades tradicionais do Estado de São Paulo”. O objetivo é aumentar a participação de assentamentos, povos e comunidades tradicionais no processo eleitoral por meio do mapeamento de suas localizações, da identificação de suas necessidades e da promoção do acesso ao voto. Pelo menos mais quatro aldeias devem ser visitadas até o fim deste semestre.

1/ Galeria de imagens

Os indígenas da etnia Guarani-mbya podem ser encontrados em uma faixa que vai do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. Em São Paulo, além de Itanhaém, São Paulo e São Vicente, estão distribuídos pelo Vale do Ribeira. “Precisamos nos manter vivos, por isso é importante que o direito ao voto chegue à Tekoa Yanka Tiî Porã [Aldeia Rio Branco]. Aqui eu sou uma das líderes, mas tudo é decidido em nhemboaty (termo usado para definir os encontros democráticos do povo), a voz de todos deve ser ouvida”, destaca Vanessa Paraí.

Apoiam o Projeto Inclusão Político-Eleitoral a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Justiça e Cidadania, Fundação Florestal, Funai e outras entidades.

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